sábado, 9 de abril de 2005

O que fazer quando outros nos aborrecem

Este é um mundo podre. E enquanto vivermos nele, iremos encontrar pessoas que nos aborrecem. Não há como fugir a isso. Todos os dias, por mais que nos aproximemos de Deus, iremos encontrar alguém ou alguma coisa que nos incomodará.

Faz algum tempo, recebi um pequeno folheto. Não me lembro do título dele nem do nome de seu autor. Mas sua mensagem precisa ser transmitida a todos os discípulos de Jesus. Suas palavras ficaram gravadas em minha memória, e quero passá-las a outros. Dou aqui a essência da mensagem para que cada leitor possa meditar nela e colocá-la em prática, quando for perturbado por alguém.

?Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.? (Mc 10.45.) ?Vir para ser servido? expressa bem a mentalidade do mundo. Ela é a causadora das brigas de infância, das discussões na escola, das rusgas entre as pessoas e das guerras entre as nações. Não é verdade que muitas vezes nos sentimos irritados, zangados, incomodados? E algumas vezes revelamos isso estourando com alguém. Outras, guardamos aquilo interiormente, mas os sentimentos de raiva permanecem ali. Por quê? Provavelmente, porque viemos para ser servidos, e não o fomos.

O fato é que estamos sempre querendo ser servidos, seja por outras pessoas, seja pela sorte, pelas circunstâncias, pelas condições climáticas. É uma atitude tão natural, tão necessária, tão ?justa?. E se somos contrariados ou frustrados (e muitas vezes o somos), nossa tendência é ficar tensos, fechar a cara, e geralmente acabamos criando aborrecimentos para nós e para os outros.

Às vezes acontece de sermos menosprezados, ignorados, postos de lado. Nosso chefe não nos dá a devida consideração. Em casa, um irmão não nos trata com o respeito que merecemos pela nossa capacidade, sabedoria e talentos. E sentimos isso profundamente. Aliás, sentimo-nos muito perturbados por isso. Tudo porque não respeitaram nossos sentimentos, nossos direitos, nossos dons, nossa posição, nossa dignidade, nossa importância. Em suma, nós não fomos servidos. Talvez estejamos com inveja, porque outra pessoa foi elogiada e passou à nossa frente. Tudo vai melhor para ela do que para nós. Ela tem mais sorte do que nós. Todas as honras, sucesso, popularidade e recompensas foram dadas a outras pessoas. Elas receberam aquilo que nós julgávamos merecer. Nós queríamos aquilo. Viemos para ser servidos. E como outros foram servidos, e não nós, sentimos inveja.

Pense um pouco. Você passou por isso recentemente, sentiu-se incomodado porque alguém o menosprezou, ou colocou outra pessoa acima de você? Está percebendo que sentiu seu orgulho ferido, porque esperava ser servido? Confesse que agiu dessa forma.

Já foi tratado com desprezo? É verdade que não podemos arranjar desculpas para as pessoas que tratam mal aos outros e que deliberadamente nos menosprezam. Mas somos discípulos de Jesus. E eu lhe pergunto, se você fosse como Jesus, que ?não veio para ser servido, mas para servir?, será que se sentiria tão magoado e irritado?

Pensemos nisso por alguns instantes. Que diferença haveria em nossa atitude para com os outros, se nosso principal objetivo fosse servir em vez de ser servido?

Não foi elogiado? Você teve um ato de bondade para com alguém. Prestou um favor a ele. E isso lhe custou algum esforço. Naturalmente pensou que ele iria ficar muito grato pelo serviço prestado. Mas não se mostrou grato como você achava que deveria ter-se mostrado. Você esperava um agradecimento caloroso e até um pouco de espalhafato em torno do assunto. Mas seu amigo agiu com bastante frieza. Agora você está chateado. Está pensando em nunca mais ajudar ninguém. Por quê? Porque você serviu, auxiliou uma pessoa que se achava em dificuldades, mas não foi servido com palavras de agradecimento e elogios e até com um pouquinho de bajulação também.

Mas, afinal, qual a verdadeira razão para fazermos alguma coisa pelos outros? É para receber agradecimentos e louvores? Ou é porque os discípulos de Jesus são chamados para servir ao próximo? E se Jesus nos ordena que façamos alguma coisa, vamos deixar de fazê-lo simplesmente porque um ser humano não retribui da maneira como gostaríamos que retribuísse? Peça a Deus agora que lhe mostre como precisa mudar suas atitudes com relação a essa questão de esperar agradecimentos e elogios.

Não o consultaram? Você tem um gosto excelente, tem muito bom senso. Tem a cabeça no lugar. Você é a melhor pessoa a quem recorrer para pedir conselhos. Mas ninguém o consultou. Ou se o fizeram, não deram a mínima atenção ao que você disse, embora você estivesse perfeitamente cônscio de que estava dando uma ótima orientação. Você não consegue entender por quê. Sente-se muito contrariado. Seu espírito está perturbado, entristecido. Qual é O problema? Será que é porque você queria tanto ajudar seu amigo, e como ele não seguiu seu conselho está realmente em dificuldades? Absolutamente. Para falar a verdade, ele se saiu muito bem sem sua ajuda. O problema é o seguinte: você não recebeu reconhecimento. Sua reputação de grande autoridade no assunto não foi favorecida. Você não veio para servir, mas para ser servido.

Você fala em público. Numa de suas preleções, acha-se presente um grande número de pessoas. Com grande satisfação, você vê ali também o Sr. X, uma pessoa muito importante e famosa nos meios evangélicos. O assunto que você está abordando é muito bom, e você cresce em eloqüência. Ao final, você se sente grandemente satisfeito com seu desempenho, e naturalmente espera que aquele Sr. X venha falar-lhe imediatamente, aperte sua mão efusivamente e lhe dê um caloroso agradecimento. Mas ele simplesmente sai do recinto, sem lhe dizer uma palavra. Como você se sente frustrado! E por quê? Você ajudou a muitas pessoas com sua mensagem. Mas não era exatamente isso que você queria. Bem lá no fundo, queria que ela trouxesse benefícios diretos para você.

Pensemos em nossos talentos e habilidades pessoais. Quem os deu a nós? Temos a responsabilidade de empregá-los no serviço de quem? Será que realmente tem importância, então, o fato de as pessoas nos reconhecerem e nos agradecerem, ou não? Peça a Deus que o ajude para que tenha a motivação certa, ao utilizar seus dons e talentos.

Talvez você esteja perturbado pelas circunstâncias de seu trabalho. Você se sai regularmente bem. Recebe o que precisa para viver. Mas queria coisa maior, e as circunstâncias não têm sido aquilo que você esperava. E constantemente tem-se sentido abatido por causa disso. Qual é realmente a raiz de tudo isso? Você quer aparecer mais, ser mais apreciado. Quer ser rico, pois deseja coisas que Deus não quer que possua. E como seus desejos não são atendidos, como seu anseio de obter sucesso não é satisfeito, você se sente frustrado e irritado.

Você entrou numa corrida, num jogo, numa competição qualquer e fracassou. Foi derrotado. Que sensação horrível! Até hoje aquele mesmo sentimento ainda o persegue. Você joga tênis? Já viu um homem crescido, culto e educado, jogar a raquete ao chão, furioso, porque uma simples bolinha de tênis não satisfez seu orgulho e não foi onde ele queria? Alguém pode dizer: ?Mas a gente tem que se esforçar e fazer o melhor possível para vencer.? Lógico; mas aquilo é apenas um jogo. E o discípulo de Jesus não deve levar os jogos muito a sério. E mesmo num campo de competição, ele pode servir a outros. Quando ele for derrotado, pode ter a satisfação de saber que, ao perder, ele serviu ao vencedor.

Pense nisto. Você vai ficar espantado de ver que, em muitas das coisas que fazemos na vida, grande parte da inquietação que temos e dos problemas que enfrentamos tem origem nesse mesmo fato: viemos para ser servidos e não para servir, até nas menores coisas. Queremos um dia de chuva, mas temos tempo bom; queremos um dia ensolarado, e chove. Quando estamos para sair, chega uma visita. Somos convidados para fazer um solo, mas estamos roucos e nossa voz falha no meio do hino. Esperamos a resposta de uma carta e ela não vem. O telefone toca; ou então, o telefone não toca. A caneta falha. O vestido não nos serve. O fogo não quer acender. Alguma coisa no almoço não está boa. Ou então, não temos almoço.

Parece que não há realmente nada de muito sério, pelo menos nada que possamos identificar com segurança. Mas estamos sempre ?vindo ao mundo? com nossos pequenos gostos e aversões, nossos desejos e vontades, e quando não somos atendidos nessas coisas, ficamos aborrecidos, tensos, irritados com nós mesmos e com todo mundo.

Mas existe uma maneira melhor de se viver. Em Vez de termos esse espírito de ser servidos, podemos ter o espírito de servir a outros. Lembre-mos o que Jesus disse: ?E quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo.? (Mt 20.27.)

Isso não significa que não vamos sentir nada, quando tivermos aborrecimentos.

Irritações, decepções, coisas erradas que nos sobrevêm ? é claro que sentimos essas coisas. De nada adiantariam para o nosso crescimento se não as sentíssemos. Mas a verdade é que elas não têm de nos deixar tensos. Quando vivemos para ser servidos, guardamos mágoas. Nós as ampliamos em nossa mente, e as abrigamos no coração.

Cedemos a elas, deixamos que façam ninhos e botem ovos e os choquem. Mas quando vivemos para servir, não guardamos rancores; não damos muita atenção aos pequenos aborrecimentos, não os acolhemos. Estamos por demais ocupados com os negócios de nosso Pai, para nos preocuparmos com eles. Sejamos como Jesus. Ele estava sempre tão ocupado, pensando nos outros e servindo a eles, que não se preocupava consigo mesmo, com a possibilidade de ser servido. Um bom remédio para se acabar com a doença da excessiva susceptibilidade é trabalhar muito, servindo aos outros.

Como você vem empregando seu tempo ultimamente? Alimentando suas mágoas, ou cuidando de outros, como um serviço ao Senhor? Pense nos últimos três dias. Quantos minutos ou horas você passou alimentando suas mágoas, e quantos dedicou aos outros? Há mudanças que precisam ser feitas na distribuição de seu tempo? Peça a Deus que o ajude a encontrar maneiras práticas de servir aos outros. Pense nas pessoas que conhece e a quem poderia ajudar um pouco: uma mãe com criança pequena, que precisaria de alguém para tomar conta dela, vez por outra; um novo convertido que precisa de um estudo bíblico; um aluno de primeiro ou segundo grau que necessita de aulas particulares, etc. Depois de fazer uma lista dessas possíveis oportunidades de serviço, selecione aquelas para as quais se sente mais capaz, e peça a Deus que lhe mostre o que ele deseja que faça no sentido de ajudar essas e outras pessoas.

Certa vez uma moça escreveu num cartão de aniversário: ?Envio-lhe meus melhores votos de aniversário: espero que você esteja morta!? E estava com toda a razão.

Quando estamos mortos, recebemos bem todas as decepções, dificuldades, o menosprezo e os espinhos da vida. Todas essas coisas podem ser de grande valor para nós. Não receber aquilo que esperamos pode redundar em beneficio, e ver nossos desejos contrariados pode acabar sendo uma bênção. A pessoa que nos menospreza deve ser considerada uma amiga, e não inimiga. E quando o ?eu? morre, Jesus vive. E assim, ainda que em grau mínimo, nós temos a possibilidade de nos sacrificar para a glória de Deus e para o bem de outros.

Disse Paulo: ?Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.? (Gl 2.20.)

Em Romanos 6.1-10 ele amplia mais esse mesmo tema. Procure esse texto e leia-o atentamente.

Cada vez que temos um aborrecimento ou alguém nos magoa, é mais uma oportunidade que temos de tornar realidade em nós o fato de que estamos crucificados com Cristo. Deus usa essas experiências negativas para nos aperfeiçoar, para sermos como ele deseja que sejamos. Leia Romanos 5.3-5, e medite nas qualidades ali mencionadas e que são produzidas em nós pela tribulação. Pare por alguns instantes agora, e peça a Deus que utilize o aborrecimento por que você está passando no momento para produzir essas virtudes em sua vida.

Em Colossenses 3.1-4, temos uma orientação prática para vivermos a vida crucificada. Leia esta passagem, estudando-a atentamente. Se aprendermos a não colocar o coração nas coisas deste mundo, veremos que os aborrecimentos não nos magoarão tanto. E se fixarmos a mente em Deus, e em tudo que o Senhor fez por nós, não nos sobrará tempo para ficarmos pensando em nossas mágoas.

Winkie Pratney

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